"Ouvi-os chorar". Mães recordam como filhos foram raptados pelo Hamas

Por Redação Noticias ao Minuto 09/11/2023 - 09:27 hs
Foto: © Getty Images/Dan Kitwood
Três mães unem-se e apelam à libertação dos seus filhos e de todas as crianças nas mãos do Hamas

"Somos mães, não somos políticas". É desta forma que Renana Jacob, Hadas Kalderon [na imagem] e B’atSheva Yahalomi se apresentam na luta pela sobrevivência do seus filhos, todos eles sequestrados pelo Hamas, no dia 7 de outubro.

"Somos três mães da mesma pequena aldeia - uma comunidade que vivia uma vida pacífica e acreditava na boa vizinhança. Do nada, sofremos este terrível ataque terrorista e a nossa pequena aldeia desapareceu. Não sobrou nada. E tudo o que queremos é que os nossos filhos estejam em casa. E é por isso que estamos aqui", afirmam, em entrevista ao The Guardian.

A missão das mães é simples - querem que os seus filhos sejam trazidos para casa e que as crianças palestinianas tenham um lugar seguro longe de Gaza. Defendem que nenhuma criança deve ser uma moeda de troca numa guerra.

Jacob, que tem dois filhos de 16 e 12 anos, recorda o dia em que os filhos foram raptados.  A mulher saiu para visitar uma amiga e quando ouviu o som de disparos ligou para o filho. Estavam os dois escondidos num quarto seguro dentro da sua casa. Através do telefonema, Jacob ouviu os membros do Hamas a entrar.

"Não me levem, por favor. Sou demasiado novo. Deixem-me", foram as últimas palavras que Jacob ouviu o filho dizer. Desde então, tudo lhe faz lembrar os filhos e apenas reza para que estes ainda estejam reféns nos túneis de Gaza. Qualquer outra hipótese, refere, será muito pior.

Hadas Kalderon estava em casa sozinha, escondida, quando o Hamas atacou. Os seus dois filhos, um rapaz e uma rapariga, estavam na casa do pai. Hadas conseguiu escapar mas quando saiu do quarto secreto soube que todos os que estavam na casa do ex-marido tinham sido raptados. Dois deles, mortos no caminho para Gaza.

"Não posso fazer nada em relação a eles, mas quero salvar a vida dos que ainda estão vivos. Não temos tempo para chorar. Não temos tempo para chorar. Estou em piloto automático. Nós. Temos. De. Salvar. Vidas. Agora. Nada mais importa", afirma.

Yahalomi, uma professora, é a mais calma das três mulheres. O seu rosto não tem expressão e as suas bochechas parecem encovadas pela dor, escreve o The Guardian. No dia 7 de outubro, ela e os seus três filhos - o filho de 12 anos, Eitan, a filha Yael de 10 anos, e uma bebé de 20 meses - foram raptados pelo Hamas. O marido de Yahalomi, Ohad, foi baleado na perna quando tentava impedir os combatentes do Hamas de invadir a sua casa e ficou para trás.

A caminho de Gaza, o carro onde seguiam foi surpreendido por militares israelitas e Yahalomi e as duas filhas caíram.

"Desde esse dia, nunca mais voltei a ver o Eitan", recorda, revelando que o marido desapareceu e não sabe se está morto ou vivo.

Ao longo dos anos, estas três mulheres fizeram amizade com palestinianos. Sonhavam com a solução de dois Estados. Viver a um quilómetro e meio de Gaza era, por si só, uma declaração de esperança.

Hoje são o rosto de como a tragédia se abateu sobre as suas vidas. São três das muitas mães e mulheres que não sabem o que aconteceu aos filhos, maridos e a outros familiares.